Quando Natalino Salgado se elegeu pela primeira vez reitor da Universidade Federal do Maranhão, eu estava no último ano da graduação. Organizava junto com alguns amigos do curso de história, um pré-vestibular popular que atendia jovens e adultos socialmente vulneráveis do Sá Viana, um bairro que foi invadido pela Universidade Federal do Maranhão, instituição que quase nada ofereceu em retribuição àquela comunidade.
Eu havia feito campanha para o professor Francisco Gonçalves, adversário de Natalino naquela eleição para a reitoria. Ao contrário do Centro de Ciências da Saúde, departamento de origem de Natalino Salgado, os Centros de Ciências Humanas e Sociais, onde estava a origem profissional e ideológica de Chico Gonçalves, não estavam unidos em torno de sua candidatura. No CCH comentava-se que todo o departamento de Letras votaria na chapa de Natalino, e que outros departamentos da área de humanas estavam divididos, inclusive no departamento de história, o meu curso.
Natalino venceu aquela eleição tranquilamente. Chico nem chegou a ameaçá-lo.
Eleito, a primeira coisa que Natalino fez foi transformar a UFMA na primeira universidade federal do Brasil a aderir ao REUNI, o polêmico programa de reestruturação das universidades públicas federais. Natalino foi à Brasília e sem conversar com o conjunto de alunos e professores da instituição, assinou a proposta feita pelo Ministério da Educação, que pouco tempo depois, transformou o Campus do Bacanga num canteiro de obras e serviu como mote para a reeleição de Natalino.
Aos poucos, o reitor transformou a universidade num antro ainda mais corporativista e
fechado. Para conseguir aprovar o que bem entendesse, o reitor começou a fazer favores para determinados grupos:
Exemplo 1: O reitor barrou o processo de uma professora do departamento de História, acusada de cometer plágio. Acompanhei o caso de perto porque eu era representante estudantil e aluna da professora em questão. Ela havia publicado na revista acadêmica de humanidades da UFMA, textos plagiados integralmente, inclusive as vírgulas.
O Conselho curador da revista conseguiu documentos que eram mais do que suficientes para provar o plágio e abrir um processo administrativo contra a docente. Na época, o Centro Acadêmico questionou as razões para a rejeição de abertura do processo e o próprio advogado da UFMA emitiu um documento com argumentos fajutos, reiterando que não puniria a professora. Desmoralizado, o conselho editorial da revista renunciou em massa.
Exemplo 2: Alguns dias antes da minha colação de grau, o curso pré-vestibular que eu coordenava ficou sem apoio financeiro da Vale, que dava uma ajuda de custos para que tirássemos cópias das apostilas usadas pelos alunos. Meus colegas do curso de história, tiveram a ideia de marcar uma audiência com o reitor para expor a situação. Francamente, esperávamos que o reitor solicitasse aos cursos do CCH, onde o pré-vestibular funcionava, que facilitassem a emissão de cópias do material de apoio para os alunos.
Para nossa surpresa, alguns dias depois, nós recebemos r uma máquina de copiar de ultima geração, cuja capacidade de tirar cópias era muito maior do que a própria máquina utilizada pelo CCH inteiro.
Foi assim, usando a máquina da universidade para atender favores pessoais e de grupo, cooptando alunos, conselhos universitários e certos professores que, aos poucos, Natalino construiu uma estabilidade política, que na prática o transformou numa espécie de tirano.
O problema é que Natalino também cresceu na base da incompetência de seus adversários. Com a Universidade em expansão por conta do REUNI, alunos e professores foram se afastando das instâncias universitárias, leia-se conselhos, centros acadêmicos e assembleias em geral.
O ranço político-partidário contaminou muitas das entidades representativas de alunos, professores, funcionários e contribuiu para o desinteresse pelo debate das questões da Universidade. Sem a força da maioria para pressioná-lo, Natalino aproveitou a situação para expandir ainda mais os seus tentáculos.
Acho justa a reivindicação de professores e alunos para que os recursos provenientes do REUNI sejam efetivamente utilizados em obras de acordo com os interesses da comunidade acadêmica e não dos projetos políticos e de poder do reitor, mas é preciso que se diga que por trás de muita gente boa que se volta contra o reitor, está uma turma extremamente corporativista que se mobiliza apenas para tirar proveito político em cima das mazelas de Natalino.
Sem conseguir apoio da maioria, o que se vê muitas vezes é a tentativa igualmente autoritária a antidemocrática de pequenos e barulhentos grupos com interesse contrariado. Se Natalino virou esse tirano que é, muito disso tem a ver com os interesses igualmente partidários e corporativistas de seus adversários.
É preciso sim MAIS UFMA e menos Natalino, PSOL, PSTU, PMDB, PT…
Fonte: Blog da Ligia Teixeira (JP).
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