Quais as razões da nossa pobreza?
Para o jovem José Sarney, empossado como governador do Maranhão, no dia 31 de janeiro de 1966, solenidade filmada por Glauber Rocha, transformando-se posteriormente em documentário intitulado Maranhão 66, as razões são outras, pois temos riquezas em abundância.
Nas suas palavras, o Maranhão Novo não pode aceitar a miséria como destino, nem as riquezas serem usufruídas somente por alguns.
E diz mais:
“O Maranhão não suportava mais, nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais, com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das puídas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio em que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso”
Apesar do genial trabalho, o documentário feito por Gláuber Rocha, Maranhão 66, em que o cineasta mescla cenas da posse com cenas do cotidiano do povo maranhense, foi rejeitado por José Sarney, tanto crueza da realidade mostrada, o que gerou desconforto na elite maranhense e no regime de plantão, do qual Sarney passou de ajudante de ordem a defensor de primeira linha.
Passados mais de 45 anos da posse, o que mudou na vida do maranhense?
Por que entra ano, sai ano, e a vida do maranhense não muda?
De acordo com o ofício encaminhado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/Regional NE V à presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, o Estado passou do limite, a concentração de terras é altíssima.
Pior: esse fato, aliado ao agronegócio e aos grandes projetos são responsáveis pelo alto número de conflitos no campo, vitimizando camponeses, quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco, ribeirinhos, entre outros.
Não é para menos, basta olhar o Censo Agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para se constatar que a estrutura fundiária do Estado é injusta, desigual, excludente e violadora de direitos.
De acordo com o IBGE, a estrutura fundiária está assim desenhada:
Propriedades Rurais Cadastradas | Finalidade | Percentual correspondente | Área correspondente | Percentual correspondente |
287.037 | 12.991.448 ha | 100% | ||
262.089 | Lavoura, agricultura familiar | 91,31% | 4.519.305 ha | 34,79% |
24.948 | Agronegócio, pecuária bovina | 8,6% | 8.472.143 ha | 65,21% |
Concretamente: agronegócio (plantio de soja, cana de açúcar e eucalipto), pecuária bovina extensiva e latifúndio, quase sempre fruto de “grilo” de terras públicas, já ocupam quase o dobro do espaço da agricultura familiar: 8,4 milhões de hectares contra 4,5 milhões de hectares, respectivamente.
Ou seja: lavradores, agricultores familiares, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, extrativistas estão sendo espremidos, pressionados, cercados, praticamente na condição de ilha: rodeados por soja, eucalipto, cana de açúcar, boi ou pistoleiro para qualquer lado que se vire.
Apesar de tudo, a agricultura familiar ainda é a principal fonte de renda de 850 mil pessoas, enquanto o agronegócio emprega apenas 133 mil, em trabalho temporário ou sazonal.
Estudos sobre a realidade agrária do Estado e a opinião das entidades da sociedade civil apontam que o quadro agrário do Estado piorou da posse da Sarney para cá.
A intensificação dessa situação trágica ocorreu após a sanção no seu mandato da famigerada Lei de Terras, grande responsável pela deflagração de enormes conflitos de terras no Estado, ao atrai centenas de latifundiários do sul e sudeste do país, gerando violência de todo tipo, assassinatos, despejos, expulsões, pobreza, miséria em conseqüência,
Diferente do que pensava em 1966, quando enaltecia as belezas naturais do Maranhão, as suas terras férteis e campos úmidos, a ondulância e a riqueza dos babaçuais, os potenciais escondidos nas terras maranhenses, para ele os motivos da pobreza são outros.
Para José Sarney os motivos da pobreza no Maranhão são dois: a) a existência de alta parcela da população vivendo na zona rural (36% segundo o último Censo, a maior do Brasil) e b) parcos recursos naturais do Estado.
Segundo afirma, “as terras (do Maranhão) não são boas, além de não termos nenhuma riqueza mineral, baseando toda sua economia tradicional numa atividade mercantil e agrícola de subsistência".
Depois dessa, entende-se porque alguns, entre os tais Lula e Dilma, gostam de afirmar que Sarney não é uma pessoa comum.
Realmente, pois uma pessoa comum, das tantas que existem na zona rural maranhense, tem vergonha na cara, não aceita a mentira como regra, a desonestidade como comportamento correto, nem a falta de caráter como medida para o exercício da autoridade.
Imagens: Maranhão 66, de Gláuber Rocha
Fonte: Diário de Lutas.
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