A verdade por mais desagradável que seja, não pode ser omitida
Semana passada fui ao Maranhão com o objetivo específico de conhecer a região onde será construída a refinaria Premium I, bem como sua influência na economia regional e nacional. Também quis saber quais são as expectativas da população em relação a esse empreendimento que, quando concluído, trará enormes benefícios para o estado, em particular, e para o Brasil, em geral. Como sabemos, essa refinaria, quando estiver operando a plena carga, terá capacidade para processar 600 mil barris de petróleo por dia e será a sexta maior do mundo.
É importante observar que essa refinaria teve a sua pedra fundamental lançada, com toda pompa e circunstância e muita festança no dia 15 de janeiro de 2010, na Fazenda Cristalândia, com a presença do ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva e da então ministra-chefe da Casa Civil e atual presidente Dilma Rousseff. Também estiveram na solenidade outras tantas autoridades e políticos, como o ministro de Minas e Energia Edison Lobão, a governadora Roseana Sarney e o senador José Sarney. A promessa era que a obra seria concluída até 2015 (www.casacivil.gov.br, 21/01/2010).
No entanto, de acordo ao Plano de Negócios (PN) da Petrobras 2012-2016, apresentado oficialmente pela presidente da empresa, Graça Foster, em 25 de junho deste ano, está muito bem detalhado o cronograma das quatro refinarias programadas pela estatal.
Das refinarias previstas anteriormente, serão concluídas somente duas: 1) a refinaria do Nordeste - Rnest (PE), sendo o 1º Trem em novembro de 2014 e o 2º Trem em maio de 2015; e b) o 1º Trem do Comperj, em abril de 2015 (essa data foi tirada do 4º Balanço do PAC 2, Capítulo 5, Eixo Energia, 26/07/12, visto que no PN da Petrobras não consta a mesma).
No que se refere à conclusão das demais refinarias o PN não deixa dúvida: às refinarias Premium I, Premium II e o 2º Trem do Comperj são projetos em avaliação (não serão concluídos antes de 2017). E acrescenta que nenhuma nova refinaria será implantada até que tenhamos confiança de atingir menor CAPEX e retorno adequado em alinhamento às métricas internacionais. Portanto, no próximo balanço do PAC 2, o mesmo precisa ser corrigido, pois na página 30/40 consta que a Premium I entrará em operação em 30/10/2017.
Fiz essa explanação a respeito do cronograma de construção das refinarias, pois, no que se refere à Premium I, não só a população da capital São Luís, mas, também a de Bacabeira - onde será construída a refinaria de Rosário - e outras tantas cidades da redondeza estão sendo manipulada pelos políticos em geral, que insistem em passar a falsa informação de que a tão sonhada refinaria será concluída até 2015, conforme foi prometido em janeiro de 2010.
Minha afirmação é resultado da visita que fiz à região, onde conversei com várias pessoas de todos os setores para se ter o sentimento e suas expectativas em relação a esse importante empreendimento.
Nota: para chegar a Bacabeira, tive que enfrentar a perigosíssima BR135, única saída da capital São Luís que, não obstante a sua enorme importância para o estado, só tem uma pequena parte duplicada; o restante tem somente duas pistas com intenso tráfego de todo tipo de veículo e que, segundo informações dos motoristas que fazem o trajeto em carros particulares, vans e caminhões, é rara a semana em que não acontece um acidente fatal. Como explicar tamanha desídia com a vida humana por parte dos governantes? A resposta está na ponta da língua de qualquer cidadão maranhense: se os políticos fizessem essa perigosa viagem, no dia seguinte providenciariam a duplicação.
Confesso que a minha maior surpresa e decepção foi constatar que ninguém, absolutamente ninguém, conhecia ou tinha ouvido falar do Plano de Negócios da Petrobras e sabia que a construção da refinaria Premium I tinha sido postergada para além de 2017. A única informação que a população tem é aquela que lhe é passada pelos políticos mal intencionados. Existe até posto de recrutamento, com fila, em Bacabeira!
Acredito que essa desinformação se deva à conjunção de dois fatores: os principais meios de comunicação do Maranhão são controlados pelos dois principais grupos que dominam a política local há décadas e, portanto, só divulgam o que lhes interessa para angariar votos dos eleitores desinformados e à baixa conectividade da população à internet que, de acordo ao excelente estudo divulgado em 31 de julho deste ano pelo Centro de Política Sociais da Fundação Getúlio Vargas O Ínício, o Fim, e o Meio Digital: Cobertura, Capacidade e Convergência (www.fgv.br/cps), coloca o Maranhão com somente 26,87% (pg. 34/78), na lanterna entre os 26 estados e o Distrito Federal.
A péssima conectividade explica a baixa penetração das redes sociais que hoje em dia fazem circular as notícias com rapidez e interagem as populações.
Conclusão: tendo em vista a desinformação (quase) total da população do Maranhão em relação à construção da refinaria Premium I, acredito que seria de bom tom que a Petrobras fizesse ampla divulgação do seu Plano de Negócios na mídia do estado, enfatizando o cronograma de execução das refinarias, evitando assim que os políticos distorçam a realidade com fins puramente eleitoreiros, o que prejudica a imagem da empresa.
A verdade por mais desagradável que seja, não pode ser omitida.
*Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em estruturas de concreto, geração de energia, saneamento e materiais explosivos.
Fonte: Jornal do Brasil.
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